Pombas venezianas

Opinião

Raquel Winter

Raquel Winter

Professora e consultora executiva

Pombas venezianas

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Realmente fiquei boba, abestalhada, impressionada. Veneza é linda. Ortodoxa, sendo estranhamente decadente e ao mesmo tempo o que há de mais contemporâneo. Cheira mal e depois cheira bem. Tem tudo e não têm carros. Uma cidade sem carros e com congestionamento. Pois é. Veneza é mesmo única, mas ainda assim ficou me devendo algo.
Talvez em um preconceito, imaginei Veneza a cidade do amor, romântica e repleta de pombinhos. Pombinhos voadores e em uma metáfora pombinhos humanos e apaixonados. Foi justamente os pombos que a icônica cidade italiana ficou me devendo. Ou melhor, os pombos apaixonados. Por incrível que pareça, vi pombos de muitas espécies e, em geral, solitários, desiludidos, perdidos.
Tudo começou quando abri a janela do meu quarto que esplendidamente dava de cara com um dos canais e visualizei uma pombinha sentada sozinha, encolhida e silenciosa no parapeito de uma janela em frente à minha. Tadinha. Deu pena de ver. A partir disso, passei a observar. As pombas em geral estavam próximas, mas disputando comida e espaço. Juntinhas, aos beijinhos? Nenhuminha.
[BLOCO 1]
Da mesma forma, as pombas humanas. Milhares de casais. A grande maioria correndo de um lado para o outro, fotografando, comprando, carregando os filhos, as malas. Falando ao celular. Teclando ao celular. Restaurantes repletos de flores, velas e vinhos. Música e água corrente. Luzes refletidas. E? E nada. Não vi casais amantes. Não vi casais de mãos dadas, com olhares brilhantes. Procurei e realmente não encontrei.
Por onde estará o amor? O romance? Será que devemos procurá-los também nos museus? Sei lá, só sei que é fato. O amor de Veneza não estava no ar como pensei que estaria.

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