Alunos fotografam mais de 180 espécies de animais na região

Vale do Taquari - riqueza natural

Alunos fotografam mais de 180 espécies de animais na região

Disciplina de Ciências Biológicas levou estudantes a campo e envolveu a sociedade em projeto de catalogação dos animais do Vale do Taquari. Iniciativa deve prosseguir em 2019 e culminar na edição de um livro com toda a fauna e também a flora da região

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Alunos fotografam mais de 180 espécies de animais na região
Vale do Taquari

A professora Marina Schmidt Dalzoquio assumiu a turma de Ciências Biológicas este ano e resolveu inovar. Percebendo certo desconhecimento sobre a fauna da região por parte dos estudantes, provocou-os. Na disciplina de Zoologia, propôs aos 18 alunos uma tarefa diferente da habitual rotina dentro da sala de aula. Eles foram a campo e, quatro meses depois, deram vida a um dos mais importantes catálogos de animais já desenvolvidos pela universidade.

Foram mais de 180 espécies fotografadas e catalogadas. Muitas das quais se encontram em extinção. Outros animais jamais haviam sido vistos pela região, garante a mentora do projeto de educação ambiental, denominado “Animais do Vale do Taquari”, e cujas fotografias já estão expostas em uma página da rede social Instagram.

“A zoologia estuda os animais. Eu queria que meus alunos aprendessem a determinar quais os animais que vivem aqui no Vale do Taquari. Então propus que os fotografassem em casa, no trabalho ou mesmo no ambiente escolar, e postassem, em uma conta que criei no Instagram, com as informações sobre cada espécie. Foi muito legal a forma como eles toparam a ideia.”

A proposta tem vários objetivos, garante. Além do catálogo, a intenção da mentora do projeto é gerar um “sentimento de proteção” nos alunos. “Queremos conhecer a fauna do Vale e, ao mesmo tempo, instigar as pessoas a criarem um carinho e um respeito para com esses animais. O grande objetivo é a preservação”, afirma.

Para ela, a melhor forma de preservar o ambiente do Vale é fazer com que as pessoas se “familiarizem” com a fauna e com a flora. “Precisamos, antes de tudo, nos reconhecer regionalmente.” E deu certo, reforça a professora. “Temos vários registros de animais que estariam extintos na natureza e foram encontrados por alunos ou parentes. Hoje percebemos que esses estão voltando, e vamos iniciar outros projetos em cima deles.”

Como exemplos, ela cita o Ratão das Taquaras (ou das Taquareiras) e uma espécie de sapo raríssima (Sapinho-admirável-de-barriga-vermelha). “Registramos não apenas um animal, mas uma população. Vamos pesquisar mais a fundo”, explica. “Nosso conhecimento sobre a nossa fauna ainda é muito baixo. Sabíamos de três espécimes de cobra. Após o projeto, aumentamos para sete”, exemplifica.

Fauna urbana

Marina menciona outros animais como exemplo do sucesso do projeto de educação ambiental. “Também registramos ‘Cachorro do Mato’ com ninhada. Tatu com filhote. Até mesmo dentro da Univates. Não sabíamos que eles se reproduziam dentro de um ambiente tão urbano. Há ainda espécies que migraram dos EUA (pássaro Sovi). Não sabíamos que estavam por aqui. Vêm para se alimentar, inclusive no campus”, comemora.

Outros animais mais discretos também foram fotografados pelos estudantes. Uma família de tucanos, no Parque do Engenho, em Lajeado, os esquilos Serelepes, no próprio campus da Univates, e Ouriços chamaram a atenção dos alunos.

Pauline Vognach

Pauline Vognach, estudante do nono semestre de Ciências Biológicas, é uma das mais empolgadas com a tarefa da disciplina de Zoologia. “Eu fotografei muitas aves, que é minha área de interesse, e alguns mamíferos. Os animais que mais chamaram a atenção são os felinos silvestres. Gato-mourisco, entre outros. A maioria foi flagrada com armadilhas fotográficas montadas pelo colaborador, Jaime Diehl, pois são animais noturnos. Vivem basicamente em Teutônia, Imigrante e Colinas.”

Saí-azul e outros pássaros como o Peixe-frito também são citados com empolgação pela estudante. “Encontrei até animais que não possuem registro, como um canário com anomalia de bico. Vamos pesquisar mais e depois o estudo será publicado em revistas. Há ainda muitas aves migratórias, como o Gavião-tesoura”, informa. “O mais bacana foi ver o comprometimento dos meus colegas. Eu já observava os animais, mas é muito legal ver como os demais se dedicaram”, reforça.

O projeto deve persistir em 2019. A professora quer montar uma exposição com as fotografias e organizar todos os registros. “Queremos montar um livro. E já estamos em contato com a professora que trabalha com plantas. A ideia é catalogar toda nossa fauna e, a partir do próximo ano, também estudarmos melhor a nossa flora”, finaliza.

Participação da sociedade

A professora orgulha-se também da participação comunitária no projeto acadêmico. Nessa terça-feira, recebeu fotos de uma borboleta. “Pesquisamos e repassamos as informações para a pessoa que nos enviou. Ela ficou muito feliz e nos agradeceu: agora a minha borboleta tem nome.” Mas nesses quatro meses, mais de uma dezena de colaboradores enviou imagens.

“Recebemos de vários seguidores, senhoras e crianças que também aprenderam a determinar as espécies avistadas no dia-a-dia em casa. Foi sensacional. O trabalho de aula virou um ‘super projeto’ de educação ambiental. Isso porque a nossa memória fotográfica é melhor. A ideia de fotografar é essa: memorizar. E os alunos garantem que tudo ficou mais fácil a partir disso.”

Vlad Martines

Entre os colaboradores, está o lajeadense Vlad Martines. O prédio onde ele mora fica na esquina da rua Júlio de Castilhos com a Osvaldo Aranha, às margens do Rio Taquari. Da sacada, enxerga diariamente uma fauna pouco usual em ambientes urbanos. “Mandei uns vídeos de uma ‘bicharada’ que vive aqui na ciclovia. Tatu, cobra, porco-espinho. Também há lagartos, aos montes”, diverte-se.

O empresário enaltece a presença dos animais naquele ambiente, mas demonstra preocupação com as novas obras e intervenções previstas para as margens do rio. “É muito bom que ainda existam algumas espécies, mesmo que a área esteja precariamente preservada. A área é dos bichos, nós que invadimos. Espero que o terreno recém permutado pelo governo municipal seja cuidado, e não devastado”, alerta.

Rodrigo Martini: [email protected]

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