O emprego e  o trabalho na  nova economia

Opinião

Ney Lazzari

Ney Lazzari

Reitor da Univates

Assuntos e temas do cotidiano

O emprego e o trabalho na nova economia

Por

Gustavo Adolfo 1 - Lateral vertical - Final vertical

Os avanços provocados pelas novas tecnologias nas últimas décadas e as novas relações entre pessoas e das pessoas com as organizações, seja trabalhando, seja consumindo, estão levando toda a sociedade a um novo patamar. Os novos desafios podem nos deixar excitados e motivados ou podem simplesmente nos estressar e nos paralisar. O futuro do trabalho e do emprego está acontecendo agora.
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No mundo do trabalho podemos perceber claramente dois grandes movimentos decorrentes das inovações tecnológicas. Um deles está vinculado ao glamour das startups, com jovens nerds querendo transformar o mundo, criando coisas novas, baratas, escalonáveis e que beneficiam grandes contingentes populacionais. São as novas carreiras líquidas, vinculadas ao empreendedorismo, com uma forte marca pessoal. Nesses espaços o trabalho é visto como lúdico, recompensador, gratificante, criativo e com propósitos mais humanos: as novas tecnologias empoderam as pessoas para mudarem o mundo.
Por outro lado, um grande movimento bem maior que o das startups é o da uberização do trabalho. Nesses espaços o trabalho é visto como árduo, robotizado, massificante, repetitivo, com riscos à saúde e sem um propósito definido: as novas tecnologias forçam a existência de trabalhadores mal remunerados, às vezes em condições precárias e praticamente sem seguridade social.
O avanço das novas plataformas, com seus aplicativos, como Uber, Rappi, GetNinjas, 99, etc., cresceu muito no Brasil justamente no momento da maior crise de emprego da história, e isso não é pura coincidência. Hoje são mais de 4 milhões de pessoas trabalhando em empresas de aplicativos no Brasil. Essa oferta é a própria crise. É a mudança dos padrões do capitalismo com alguns graus de liberdade individual, mas também com a transferência de custos e riscos para o próprio trabalhador: vale-transporte, vale-alimentação, segurança do trabalho, previdência social, etc.
As empresas da chamada nova economia não contratam pessoas, elas fazem a mediação entre uma demanda e uma oferta.
Entretanto, as condições e as decisões de como se dará a oferta não pertencem ao trabalhador. Ele tem a liberdade de escolher seu horário de trabalho e o tempo diário de horas a trabalhar, mas não tem a liberdade de, por exemplo, fixar o preço do seu trabalho, que é dado por um algoritmo que oferece preço variável ao consumidor. É o trabalhador como empreendedor de si mesmo, mas com inúmeras limitações.
Imaginemos a cena de um acidente entre um entregador de pizza que usa bicicleta da Rappi e um carro alugado por um motorista da Uber. Quem tem seguridade social ou seguro privado? Provavelmente nenhum dos dois. Quem vai arcar com os danos, com o período de afastamento do emprego, com o custo do Samu, com a hospitalização? A Uber? A Rappi? Ou o SUS e o INSS, ou seja, a empresa privada ou a sociedade/Estado? Queremos menos ou mais Estado?
Um país como o Brasil, na periferia do mundo desenvolvido, não cria as tecnologias, não é sede de grandes empresas que investem na fronteira do conhecimento, do avanço tecnológico nem está no topo na área educacional para poder qualificar tecnologicamente pesquisadores ou trabalhadores mais especializados. Assim, nessa divisão internacional do trabalho temos alguns milhares de pessoas que atuam no glamour das startups e alguns milhões de pessoas passando pelo processo de uberização.
Os novos padrões tecnológicos vieram para ficar. O que pode ocorrer é o avanço e o aprofundamento do uso desses padrões, inclusive em setores não imaginados por nós até hoje, e não o inverso. Não nos faltam as tecnologias conhecidas como “duras”; nos falta uma nova tecnologia social de como ajustar as novas possibilidades. As estruturas sociais que foram criadas no passado não estão dando conta do novo cenário imposto pelo avanço tecnológico. Precisamos de uma revolução ética, de novas normas e leis, de relações de trabalho inovadoras, pois as que temos hoje não respondem de forma humana e digna ao novo mundo digital. Os grandes desafios que temos pela frente só poderão ser enfrentados por uma nova forma de pensar e por novos acordos sobre como queremos viver, conviver e trabalhar em sociedade. E isso ainda precisa ser inventado: a mesma sociedade que deu origem à nova economia terá que criar inovadoras relações sociais e de trabalho.
Ou será que a nova economia já está tão envelhecida que não consegue ajudar a resolver as questões e as dificuldades que ela mesma gerou?

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