No embalo da duplicação

ROTA DO DESENVOLVIMENTO

No embalo da duplicação

Nas cinco cidades, de Tabaí a Estrela, a BR-386 abre caminho para instalação de indústrias, comércios, serviços e empreendimentos imobiliários. Em três anos com a nova pista, quase 60 novos negócios começaram ou estão em implantação nos pouco mais de 33 quilômetros

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No embalo da duplicação

Melhores condições de tráfego, com segurança e a facilidade de chegar à Região Metropolitana. Esses são alguns dos motivos que levam empreendedores a investir nas margens da BR-386, entre Tabaí e Estrela. Só de empreendimentos recentes, as cinco cidades têm quase 60 novas empresas, entre instaladas ou em fase de implantação.
A posição estratégica do Vale do Taquari, próxima das cidades gaúchas mais desenvolvidas e populosas, traz consigo redução nos custos logísticos. Professora de Administração, Logística e Comércio Exterior da Univates, Daiane Gonçalves de Carvalho frisa que essa é uma das maiores despesas das organizações. “De todas as despesas operacionais, o transporte pode representar até 60% dos custos logísticos.”
De acordo com ela, o país enfrenta dificuldades devido à falta de infraestrutura. “Este é um dos maiores gargalos da logística e tem grande impacto na competitividade das indústrias”, frisa. Para Daiane, ter rodovias em boas condições reflete em menos custos para a população.
Há três anos, foram abertos 33 quilômetros duplicados da rodovia. Diferente das cidades próximas à capital, saturadas por diversas indústrias e empresas já em operação, o Vale conta com áreas de terras disponíveis. Essa condição desperta o interesse de empreendedores.

Na BR, arrecadação de R$ 210,9 milhões

Estrela desponta em termos de novos empreendimentos na rodovia. O total, conforme o setor de Fiscalização Tributária da Secretaria da Fazenda, são 145 negócios em atividade. Entre as 20 maiores em retorno de ICMS, pelo menos seis estão ao longo da BR. São: Brasilata, Cooperativa Languiru, Plastrela, Rota Indústria Gráfica, Rola Moça e Atacadão.
Os estabelecimentos nesta região empregam em torno de duas mil pessoas. Em termos de arrecadação, são R$ 210,9 milhões em Valor Adicionado Fiscal, o que corresponde a 25% do total.
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Com um interesse crescente dos empreendedores, a cidade se organiza. Conforme o prefeito Rafael Mallmann, desde o início da primeira gestão, em 2013, o objetivo era criar condições para receber esses investimentos. “Buscamos reestruturar serviços básicos de saúde, segurança e educação, fortalecemos a rede social e investimentos em infraestrutura”, relembra Mallmann.
“Áreas inexploradas”
A BR-386 se torna um entroncamento rodoviário, com um fluxo de veículos das regiões do Norte do RS, do Alto Taquari, do Vale do Rio Pardo e da Serra do Botucaraí. Com isso em mente, o Richter Grouppe projetou mil metros de área para lotes dedicados a comércio, gastronomia e serviços.
Chamado de Business Park, o espaço foi dividido em 100 lotes, com ruas pavimentadas, energia elétrica, internet por fibra óptica. “Pensamos em um local para reunir as pessoas”, conta o diretor do grupo, José Paulo Richter. Fica no interior de Estrela e deve ficar pronto no próximo ano. Naquele local, em um raio de 180 quilômetros, diz Richter, está 80% do PIB gaúcho. “O
Vale do Taquari é um gigante adormecido e escolhemos Estrela por ter muitas áreas inexploradas.”
Nas margens da rodovia, entre Linha Glória e Porongos, estão em curso empreendimentos significativos, com impacto premente na economia, desenvolvimento, renda e empregabilidade do Vale. Estimativa do governo municipal é que até o próximo ano, sejam criados 500 novos postos de trabalho.

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Facilidade logística

Nas imediações do Business Park, a indústria Faros também negocia instalação de uma nova unidade fabril e a Scapini Transporte prepara o Centro de Operações Interligadas (COI). “Teremos um setor adaptado, moderno, para otimizar e ganhar produtividade nas operações”, realça o gerente comercial da empresa, Lucas Scapini.
De forma gradual, as operações hoje em Canoas irão para Estrela. A empresa tem 19 unidades de operações. Além do Rio Grande do Sul, as filiais ficam em Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Minas Gerais, Goiás, Bahia e Pernambuco, além de duas internacionais, em Buenos Aires, na Argentina, e Montevidéu, no Uruguai
Com essa experiência, o gerente comercial realça a importância de uma infraestrutura rodoviária de qualidade. Scapini também é diretor do Sindicato das Empresas de Transportes de Cargas e Logística (Setcergs). “Quando vamos ao mercado e efetuamos compras, cerca de 73% vieram pelas estradas. Uma rodovia estruturada é benéfica para todos.”

Desejo do RS em Paverama

Entre os investimentos mais esperados, a nova fábrica da Fruki marca território no acesso a Paverama. Pelo menos 75 cidades gaúchas fizeram propostas. A confirmação ocorreu em abril de 2016 e foi motivo de festa.
Além de uma relação afetiva com Paverama, pois o pai do então presidente da empresa, Nelson Eggers, nasceu no município, também foram analisados aspectos técnicos. A melhoria na infraestrutura da rodovia foi um dos motivos que ajudou na decisão, afirma a atual presidente, Aline Eggers Bagatini. “Foi um dos fatores, sem dúvida. A localização é estratégica, às margens da BR, próxima da Região Metropolitana e da Serra, onde estão os grandes centros consumidores do RS. Além disso, a duplicação facilita muito o fluxo de caminhões.”
Como o modal rodoviário é o principal meio para receber insumos e distribuir mercadorias, há impacto sobre o custo final dos itens, frisa Aline.
O investimento previsto até 2024 alcança R$ 200 milhões. Na primeira etapa, prevista para abrir em dezembro do ano que vem, será aplicado a metade deste valor.

Chance para crescer

Município com pouco mais de 4,4 mil habitantes, Fazenda Vilanova encara essa etapa como uma oportunidade de garantir empregos, renda e arrecadação. Cortada pela BR, a cidade tem 57 empresas instaladas na rodovia. Juntas, representam mais de 240 empregos diretos
Desse total, quatro começaram a operar nos três anos de duplicação. São: um posto de combustíveis (considerado o maior em área física da América do Sul), uma distribuidora, uma metalúrgica e uma indústria que fabrica turbinas para hidroelétricas.
De acordo com o prefeito José Luiz Cenci, desde 2017 são feitos movimentos para ajudar na qualificação da mão de obra dos jovens da cidade. São oferecidos cursos profissionalizantes voltados às especificações das empresas em operação.
Outra preocupação é com a infraestrutura da rede de energia, de internet por fibra óptica, em segurança e saúde. “Pensando nisso, desenvolvemos o projeto de monitoramento por vídeo, cobramos das operadoras de telefonia e de energia melhorias nos serviço e estamos ampliando o Centro de Saúde”, afirma.

Visibilidade e novos mercados

Cenci acredita que esse é um momento impar para o Vale. Mesmo antes da duplicação, já haviam contatos de empreendedores para ocupar os terrenos nas imediações da rodovia.
Entre os negócios confirmados, entre eles, a construção de um posto de gasolina com paradouro, com investimento de R$ 10 milhões. Outro destaque é a Bella Luna Aromas, que sai de Teutônia para Fazenda Vilanova. Há 17 anos no mercado, a empresa vai investir R$ 15 milhões para transferir as operações.
Diretora da empresa, Caroline Immich destaca a parceria consolidada com o município. Por meio da política de subsídio, foi concedido o terreno para a obra. Isso abriu a possibilidade de ampliar a produção. A indústria tem hoje 40 empregos diretos.
No novo espaço, a perspectiva é ampliar para 70.
“O local garante muita visibilidade, também facilita a logística”, destaca. A construção está na etapa inicial. De acordo com a empresária, a previsão é iniciar a operação no próximo ano.
 

FILIPE FALEIRO – [email protected]

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