O acerto da Sicredi em Minas Gerais

Opinião

Adair Weiss

Adair Weiss

Diretor Executivo do Grupo A Hora

Coluna com visão empreendedora, de posicionamento e questionadora sobre as esferas públicas e privadas.

O acerto da Sicredi em Minas Gerais

Por

Gustavo Adolfo 1 - Lateral vertical - Final vertical

Cooperativa local estabelece relações sólidas rapidamente em solo mineiro. Pelo menos 12 profissionais saíram da região para desbravar o rincão dos inconfidentes.
A expansão da Sicredi Integração no estado de Minas Gerais se revela assertiva. Em poucos meses no solo mineiro, a cooperativa do Vale registra mais de 600 associados e um volume de R$ 20 milhões de negócios captados e financiados. Na quarta-feira foi inaugurada a terceira agência, com os mesmos rituais e envolvimento característicos daqui. Deu “liga”.
A convite da cooperativa, pude verificar in loco a estratégia do movimento da cooperativa local na região do entorno de Ouro Preto. Pelos menos 26 cidades congregam a área de atuação. Visitamos cinco cidades, numa maratona que iniciava de manhã cedo e terminava à noite. A maior delas é Conselheiro Lafaiete, com 120 mil habitantes, seguinda de Ouro Preto, com 80 mil. As demais todas têm em média entre 15 a 60 mil habitantes, o que soma um contigente populacional de 560 mil pessoas. O número é quase cinco vezes maior do que a área de atuação da Sicredi Integração em Lajeado e as 10 cidades arredores.
O acerto não se dá apenas na escolha da área de atuação, mas na receptividade com que os mineiros tratam a nova cooperativa. Por lá, os bancos privados automatizaram tudo e abandonaram o atendimento personalizado. Eis a oportunidade da Sicredi, que levou 12 profissionais daqui do Sul para coordenar e treinar pessoas de Minas Gerais.
Durante quatro dias pude conversar e interagir com associados, funcionários, empresários e líderes mineiros, bem como a equipe que saiu daqui, todos entusiasmados com o sucesso. As ações sociais, a transparência na aplicação dos recursos e, principalmente, a forma como é realizado o atendimento são considerados grandes diferenciais.
O desafio é preparar gente. Mesmo a equipe que saiu da região precisa de apoio. A maioria jovens recém-casados, alguns com filhos pequenos, ainda não se acostumaram com a nova rotina e cultura. Mesmo assim salientam a oportunidade e o carinho dos mineiros.
Desbravar novos horizontes nunca é algo simples. Nova cultura, novos modelos modelos mentais, costumes diferentes e uma série de particularidades que precisam ser considerados. Talvez o vice-prefeito de Ouro Preto, Airton Miranda, tenha resumido bem o foco a perseguir. Destacou o espírito colaborativo e agradeceu a chegada do novo modelo financeiro. “Estive em Lajeado e pude perceber como trata os associados e funcionários. “É uma família no RS. E agora a Sicredi vem aqui para completar a família mineira”.
Outro acerto a ser confirmado deve ser no equilíbrio das novas agências. Diferente de algumas unidades aqui a da região – que demoraram vários anos para ficar no azul – a diretoria operacional estima que em Minas o tempo máximo será de dois anos. Algumas dão sinais de equilíbrio bem antes, muito pela lacuna bancária naquela região.
No princípio, quando a Sicredi anunciou seu desejo de expandir em um estado distante quase dois mil quilômetros, muitos associados ficaram com o “pé atrás”. Ao compreender a necessidade das cooperativas ampliarem suas bases e serviços de atuação é possível traçar uma análise positiva. Afinal, o próprio Banco Central quer que as cooperativas de crédito avancem no espectro de atendimento, atualmente, com apenas 4% do mercado financeiro nacional.
A importância das cooperativas de credito se acentua com a globalização. Quanto maior e mais organizado for o sistema colaborativo e associativista, menos dependência e vulnerabilidade terão as pequenas regiões.
Não se trata de rejeitar os demais players, mas de equilibrar a matriz econômica local para não ficar refém de alguns poucos grupos econômicos, seja na área de crédito ou mesmo de produção, saúde e outros.
Não há dúvidas que a força do desenvolvimento regional do Vale do Taquari passa muito pela organização colaborativa. Desde a colonização, nossos antepassados souberam dar valor ao associativismo e, assim, fundaram um ecossistema virtuoso que nos coloca em vantagem perante muitas outras regiões.
Em Minas Gerais, nesta semana, pude perceber cristalina esta diferença. O longo período de escravatura acabou por travar um pouco mais a orientação do espírito mútuo e colaboração.
Menos mal que o cooperativismo avança e, aos poucos, chega aos rincões mais distantes do país.
Espero que o sistema cooperativo ora protagonizado pelo sistema de crédito possa despertar a cooperação também em outros setores.DDADAD)
 


 
Imprensa fraca
Chamou atenção a pouca quantidade de jornais e rádios na região dos inconfidentes. A maioria dos jornais são semanais e as emissoras radiofônicas de entretenimento. De certa maneira isso explica a desigualdade social e a desinformação em alguns dos rincões daquele estado comandado por feudos, tanto no passado, quando ainda hoje.
Os veículos de comunicação mais fortes são de grandes cidades e pertencem ou são comandados por poderosos, a maioria políticos. O jornalismo isento e livre das pressões econômicas e políticas é algo que os mineiros não experimentam na maioria das cidades. Ainda assim, seu povo é culturalmente evoluído.
Difícil traçar um julgamento em tão poucos dias, mas me atrevo dizer que a falta de uma imprensa mais forte e atuante empobrece os inconfidentes, principalmente, no aspecto da distribuição de riqueza e renda.
Uma região com uma imprensa atuante e veículos de comunicação com linha editorial clara e isenta pode alemejar mais. É bom não perdermos nossa independência editorial, sob pena de ficarmos reféns da mensagem sem curadoria e nem responsabilidade.
Em tempos nebulosos como os vividos na era das notícias falsas, o jornalismo profissional se ergue vital para a democracia e o desenvolvimento social.


“Pois se uma grande pedra se atravessa no caminho e 20 pessoas querem passar, não o conseguirão se um por um a procuram remover, individualmente. Mas, se as 20 pessoas se unem e fazem força ao mesmo tempo, sob a orientação de um deles, conseguirão solidariamente afastar a pedra e abrir o caminho para todos.”
Padre jesuíta, Theodor Amstad
 

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