Símbolo do turismo regional completa sete décadas

Lagoa da Harmonia

Símbolo do turismo regional completa sete décadas

De gerador de energia a um complexo de lazer, hospedagem e gastronomia. Conheça a história por trás da lagoa que atrai cerca de 60 mil visitantes ao ano e se consolida como um dos pontos turísticos mais lembrados do Vale

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Símbolo do turismo regional completa sete décadas
Gustavo Adolfo 1 - Lateral vertical - Final vertical

Romildo Engster, 71, ainda se recorda do início da adolescência, quando a lagoa localizada na Linha Harmonia era frequentada por “meia dúzia de pescadores”. Eles tinham receio de falar sobre o local para evitar a “concorrência” na caça dos peixes, afirma.

Natural da localidade, Engster chegou a trabalhar no primeiro bar edificado ao lado das águas cristalinas. Sem geladeira, vendia bebidas em toneis cheios de gelo colocados à sombra das árvores.

Também foi Engster que ajudou a concretar os dois quilômetros de calçada que circundam o lago. “Trabalhamos em sete pessoas. As pedras a gente tirou do mato mesmo. Tudo do nosso jeito”, resume.

2020_01_25_fábio alex kuhn_LAGOA DA HARMONIA_Romildo Engster_moradorPassadas sete décadas desde a inauguração do local, Engster se tornou testemunha do desenvolvimento turístico e percebe que o sigilo dos pescadores não deu certo. A Lagoa da Harmonia se transformou em um dos pontos mais conhecidos do Vale do Taquari.

Expectativa é que o local tenha atraído cerca de 60 mil visitantes no ano passado.

Início como usina hidrelétrica

Um banhado com vegetação baixa existia na Linha Harmonia antes da década de 40. A água foi represada com a finalidade de construir uma usina hidrelétrica. Este era o sonho de Reinoldo Aschebrock, homem conhecido pelo pioneirismo e paixão pela geração de energia.

Várias áreas de terras foram adquiridas pela Aschebrock e Cia. para viabilizar a construção da barragem. A empresa contratou os próprios agricultores que moravam nas proximidades para tocar a obra com pás e picaretas.

Natural da localidade, Herbert Scholz tinha nove anos na época. Relembra que os materiais para construção da barragem eram transportados de caminhão até uma altura do morro. Após, precisavam ser levados cerca de três quilômetros pela carroça de bois em um desnível de 290 metros. “Inclusive os dois geradores e as duas turbinas tiveram que ser transportados com carroça”, relata o neto de Reinoldo, Rainer Buneker.

Em janeiro de 1950, a usina com 75 kVA entrou em funcionamento, atendendo cerca de 90 usuários da vila e arredores. Mais tarde, outra usina foi construída com potência instalada de 150 kVA.

Mesmo com as duas geradores de energia, mais pessoas desejavam luz em casa. A necessidade de investimentos fez com que Reinoldo apostasse no cooperativismo. Com a ajuda de 175 sócios, nasceu, em 1956, a Cooperativa de Eletricidade Rural de Teutônia LTDA (Certel).

Com a fundação da Certel, foi possível captar recursos e ampliar a rede até ligá-la na CEEE. As duas usinas na Harmonia acabaram se tornando obsoletas pela baixa capacidade de produção e foram desativadas em 1972.

2020_01_25_fábio alex kuhn_LAGOA DA HARMONIA_proprietário WOlfBanhado de água azul?

Na década de 70, poucas pessoas conheciam a lagoa. Havia apenas a fama de um “banhado” no alto dos morros da Linha Harmonia. Um dia, o empresário Rubem Wolf, 78, resolveu levar a família para um churrasco no local. “A água era azul. Não tinha nada de banhado. Me encantei na hora”, conta.

A surpresa foi tanta que ele comprou a área de terras de três hectares que na época pertencia à Certel. A aquisição foi feita em parceria com Orlando Scheffer e Osvaldo Schröer com o objetivo inicial de transformá-lo em um espaço de veraneio particular.

O grupo começou a limpar o entorno da lagoa e investir em infraestrutura. Uma casa e um bar foram construídos e o ponto turístico passou a ser aberto ao público. No começo da década de 80, a rede de luz também foi puxada até o alto da Harmonia. “Isso era engraçado. A lagoa produzia energia, mas não tinha luz elétrica”, comenta o filho de Rubem, Carlos Wolf.

Conforme a família Wolf, o acesso ruim era um dos empecilhos ao desenvolvimento turístico. Em dias de chuva, era quase impossível subir até a lagoa em função do declive, barro e pedras soltas.

Tudo mudou em uma conversa entre Rubem e o então prefeito Elton Klepker (in memoriam), em 1991. “Ele me perguntou o que pretendia fazer na lagoa. Falei que dependia do que ele faria com a estrada”, relembra. O mandatário se comprometeu a asfaltar o trecho e Rubem em construir uma hospedagem.

A pavimentação é lembrada até hoje por Carlos devido às dificuldades. O asfalto de Harmonia foi o primeiro no interior de Teutônia. “A Construtora Giovanella fundiu oito motores de caminhão. Essa nunca mais quis saber de asfalto para lá”, conta.

Em concomitância com o asfaltamento, cerca de 40 funcionários trabalharam na construção do restaurante e hotel que, na época, possuía até padaria e salsicharia. Rubem também comprou terrenos próximos. A família tem cerca de 110 hectares de terras no entorno do lago.

2020_01_25_fábio alex kuhn_LAGOA DA HARMONIA_foto principal da matéria1Lagoa da Harmonia na atualidade

A estrutura física conta com restaurante, cinco apartamentos e 12 cabanas para locação e mais de 100 churrasqueiras. Entre as atrações, estão a lagoa com oito hectares, o mirante a 600 metros do nível do mar com rampa de voo livre e duas trilhas autoguiadas.

Faz três anos, o espaço é administrado por Cleber Tregnago, 33, e Vanessa Konrad, 32, com ajuda de quatro funcionários. Novidades como o pedalinho, passeio a cavalo e instalação de brinquedos infantis foram incorporadas pelos locatários com intuito de atrair mais visitantes. O ingresso para passar o dia é R$ 7,50.

Conforme Tregnago, o número de visitantes varia dependendo as condições climáticas. “Se for sol, tem movimento”, pontua. Em média, estima que cerca de 5 mil turistas passam pelo local ao mês.

2020_01_25_fábio kuhn_lagoa da harmonia_foto principal2_mirante“Já ficamos cerca de 20 dias contando pessoas nos dedos por causa da chuva. Mas em eventos como o Encontro de Carros Antigos (junho de 2019), tivemos de pedir para as pessoas irem almoçar em outro local. A gente não sabia onde acomodar tantas pessoas”, comenta Vanessa.

Para o casal, as características naturais fazem com que a Lagoa da Harmonia seja tão visada pelo público. “É muito impactante ver uma lagoa desse tamanho em cima de um morro e em meio à mata nativa”, opina Tregnago. Outras vantagens do local, para os locatários, são a temperatura agradável e ambiente familiar tranquilo.

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