A tal “liberdade  de imprensa”

Opinião

Ardêmio Heineck

Ardêmio Heineck

Empresário e consultor

Assuntos e temas do cotidiano

A tal “liberdade de imprensa”

Por

Atualizado sábado,
08 de Fevereiro de 2020 às 08:13

Vale do Taquari
Gustavo Adolfo 1 - Lateral vertical - Final vertical

A forma como foi tratada, pela grande imprensa, a denúncia do Ministério Público Federal (MPF) contra o jornalista Glenn Greenwald, do site The Intercept, há poucos dias, me encorajou abordar este tema, meio tabu. Valendo-se de material subtraído de celulares, por hackers, inclusive teria manipulado as informações obtidas, apagando determinadas mensagens. Até aí, pode-se dar de ombros. Diariamente milhões de brasileiros são vítimas de hackers que invadem computadores e celulares para subtrair dados e vende-los. Sem que, aparentemente, a Aneel faço algo para impedir.

Mas no caso de Gleen a acusação abrange a compra e divulgação de informações e conversas, obtidas com hackers que violaram telefones de autoridades brasileiras constituídas: Ministro da Justiça, Presidente da República, Procuradores e Coordenador da “Lava Jato” ( maior operação de combate à corrupção já vista no País), dentre outros. Aí já temos uma questão de violação da nossa soberania e segurança nacional. Ouvindo entrevistas de Gleen, fica claro o cunho político do que fez e agora é acusado, configurando intromissão e manipulação da política de um País que nem mesmo é o seu de origem. E mesmo assim, diversos articulistas e linhas editorias da grande imprensa indignaram-se com o MPF, seguramente por uma ótica de que a imprensa tudo pode, sob o manto da máxima de que “a população precisa ser informada”. A nós só resta a indignação silenciosa.

Há também o risco do mau uso da “liberdade de imprensa” constituir e derrubar governantes, independentemente de Partidos. Apenas no interesse próprio. Getúlio Vargas, por exemplo, até seu suicídio foi alvo do implacável jornalista Carlos Lacerda. Ibsen Pinheiro, falecido há pouco, em 1992 conduziu impecavelmente, como Presidente da Câmara Federal, o impeachment de Collor. Virtual candidato à Presidência da República em 1994, em 1993 a Revista Veja o associou a esquema de corrupção da época (“Anões do Orçamento”). Acabou caçado. Anos após, o autor da matéria confessou que houvera erro: por engano (?) acrescentara um “zero” no saldo da conta bancária de Ibsen, conseguindo associá-lo, indevidamente àquele esquema. Abriu caminho para Fernando Henrique eleger-se em 1994. Recentemente temos a deposição de Dilma. Sem entrar no “a favor ou contra” movido pela ideologia, ainda me pergunto se na votação do impeachment, não houve o dedo da grande imprensa, maximizando, no trato do assunto, o baixo desempenho da economia e o desemprego, em detrimento do verdadeiro motivo do processo contra ela: erro técnico de movimentações no orçamento da União. Na votação, ao explicarem seus votos, Deputados deixam claro este aspecto. Abriram caminho para Temer chegar à presidência. São claros exemplos de disputa do poder político em que a imprensa teve papel decisivo.

Mas, vamos particularizar, adentrando em nossas casas: canais abertos de televisão agridem nossos valores e destroem pilares familiares ao acessarem milhões de lares com programação moralmente duvidosa (BBB, novelas, artigos, editoriais e noticiários eivados de ideologias, etc.).

David Coimbra foi uma exceção de bom senso. Sua coluna da Zero Hora de 22 de janeiro aborda o caso Greenwald/Intercept. Indaga quanto à conivência da imprensa com o fato de um hacker acessar informações sigilosas de juízes, empresários, promotores, artistas, do Presidente da República, ensejando destruir-se empresas e reputações, causar escândalos, auferir ganhos com sua comercialização. Coloca não ter respostas. Como alvo da liberdade de imprensa mal utilizada, penso que a sociedade deveria ter como resguardar-se desta ameaça. O futuro da humanidade depende um pouco disto.

Acompanhe
nossas
redes sociais