A rotina da jornalista Jucinara Schena mudou por completo desde o último dia 14. Três dias antes, a Organização Mundial de Saúde (OMS) decretou situação de emergência, o que fez com que diversos países adotassem medidas de quarentena. Jucinara é natural de Nova Bréscia, mas desde 2014 vive em Barcelona, onde cursa o último ano do programa de doutorado em Estudos em Comunicação, na Universitat Pompeu Fabra.
Os primeiros dias foram difíceis. “Estar 24 horas por dia confinada, mesmo para uma pessoa caseira, foi um choque. Foram dias de caminhar pela casa sem rumo certo, comer, dormir, pensar, repensar, e ter a quase certeza de que é apenas um sonho ruim e que logo, ao abrir os olhos, tudo estará normal”. A maior dificuldade é lidar com a saudade e a preocupação com a mãe Gessi, que vive em Encantado.
Com o passar do tempo, Jucinara encontrou formas de se adaptar à situação e manter a mente tranquila. Começou por estabelecer horários para estudar e descansar, mas com flexibilidade, sem desrespeitar seu próprio tempo. “Me permito sentir e aprender o que é preciso nestes momentos. Não sou a favor de me obrigar a ser produtiva, ainda menos agora”. Meditar e escrever notas pessoais sobre o que está vivendo e sentindo também têm ajudado.
Jucinara ainda encontra conforto ao manter contato diário com os amigos, com mãe e com a gata de estimação, que ficou com Gessi, aqui no Brasil. “Não deixo de falar sobre nada que estou sentindo, e com meus conhecidos formei uma rede de apoio para compartilhar tudo o que nos preocupa. Falar organiza o pensamento, sempre me lembra uma amiga”. A jornalista pretendia viajar ao Brasil, mas decidiu adiar a visita. “Entendo que, para a segurança de todos, agora o melhor é aguentar firme aqui”.
Como cuidar da sua mente
A psicóloga especialista em Neuropsicologia e Terapia Cognitivo Comportamental, Katiussi Dall’ Agnol garante que em momentos como este, é normal nos sentirmos fragilizados. O isolamento social pode aflorar sentimentos de ansiedade, tristeza, abandono e rejeição, pelas inseguranças que a situação traz, a grande mudança de hábitos imposta e a falta de aproximação física com entes queridos.
Para pessoas que já sofrem de depressão ou ansiedade, a situação pode ser ainda mais difícil, por ser um gatilho para manifestação de novos sintomas. “A ansiedade é uma ferramenta de defesa, um recurso benéfico que nosso corpo utiliza para alertar sobre perigos ou nos manter motivados a desenvolver novas atividades. Quando ela excede os padrões adaptativo, transforma-se em uma crença de futuro incerto e uma sensação de incapacidade e vulnerabilidade diante deste futuro. Neste caso, torna-se algo mais complexo, pois é muito mais grave do que estar sujeito a preocupações do cotidiano”.
Diante das dificuldades que o momento impõe, é fundamental cuidar da sua saúde mental. “É uma fase, uma etapa que precisamos passar”. Katiussi destaca que é importante refletir sobre o que estamos vivenciado, observar a situação de maneira racional e perceber as oportunidades que ela pode trazer. “É um desafio ficar isolado, mas identificar quais os recursos se tem para lidar com esse incômodo pode melhorar seus dias”.
O que fazer para manter a mente em dia neste momento? Confira as dicas da psicóloga.
Evite o bombardeio de informações
Um dos principais fatores de ansiedade é o excesso de informação. Precisamos estar bem informados, mas é importante estabelecer momento para isso. Evite ficar o dia todo conectado e procure fontes seguras para evitar as fake news.
Estabeleça uma rotina
Independente de estar ou não trabalhando de casa, é importante que o seu corpo não sofra ainda mais com os prejuízos deste isolamento. Estabeleça um horário para acordar, alimente-se de forma adequada, pratique algum tipo de exercício físico e mantenha um equilíbrio entre atividades pessoais e profissionais.
Não interrompa seu tratamento
Se você está em acompanhamento psicológico, não deixe de realizar as sessões mesmo em isolamento. Por meio do atendimento online você mantém sua saúde mental em dia e pode encontrar recursos para lidar com esta mudança. Caso você não esteja em tratamento psicológico e perceba que não está conseguindo lidar sozinho com seus sentimentos, entre em contato com um profissional de sua confiança e converse com ele sobre a possibilidade do atendimento online.
Utilize a tecnologia a seu favor
Por mais frustrante que seja o isolamento social, a tecnologia pode nos auxiliar muito a estreitar laços com pessoas queridas e superar este momento juntos. Ligue, faça chamadas de vídeo, e se conecte às pessoas que você ama.
Mantenha-se envolvido
Realize atividades que utilizem de forma útil o seu tempo e tente coisas novas. Dedique um período do dia para seus hobbys ou a descoberta deles, e outro para aquela organização de gavetas, armários que já estão na lista de afazeres há tempo.
Acalm(ar) a mente
Katiussi e a também psicóloga Lauren Heineck iniciaram um grupo de apoio online gratuito chamado ACALM (AR). Por meio do WhatsApp, as profissionais disponibilizam conteúdos práticos e informativos sobre a ansiedade para ajudar durante o período de isolamento. O primeiro grupo reúne mais de 130 inscritos. Um segundo inicia na próxima segunda-feira, dia 30. Para participar, você pode entrar em contato com as psicólogas pelos seus perfis no Instagram @psicokatiussi e @laurenheineck.
