Região pode ter colapso do sistema de saúde na metade de abril

Radiografia da estrutura do Vale

Região pode ter colapso do sistema de saúde na metade de abril

Entre a dificuldade de prever a velocidade da evolução do coronavírus e a necessidade de preparar estruturas para atender pacientes, hospitais e profissionais se preparam para combater a pandemia. Coordenadoria Regional de Saúde projeta ponto crítico para metade de abril

Por

Região pode ter colapso do sistema de saúde na metade de abril
No maior hospital da região, profissionais trabalham em setor isolado com oito leitos. São 2 médicos, três enfermeiros e cerca de cinco técnicos. Créditos: Matheus Chaparini
Vale do Taquari
Gustavo Adolfo 1 - Lateral vertical - Final vertical

Hospitais e profissionais de saúde correm contra o tempo e criam estratégias para se preparar para a possibilidade de uma explosão de casos de covid-19 na região. As casas de saúde isolam setores específicos para atender pacientes com complicações respiratórias e suspeita da doença. Planos de emergência são criados para ampliar a capacidade de acordo com a evolução dos casos.

O número de casos confirmados duplica a cada três dias e o pico da demanda por atendimentos no Vale do Taquari deve ser na metade de abril, de acordo com projeção da 16ª Coordenadoria Regional de Saúde.

Se este cenário se mantiver, a coordenadoria prevê a possibilidade de um colapso da estrutura hospitalar em abril.

“Se tivermos um grande número de internações logo depois da páscoa, em uma semana todos os leitos estarão cheios. Aí começa a dificuldade de alocar pacientes na região, tendo necessidade de buscar leitos em Porto Alegre, onde o custo pode ser maior”, afirma Glademir Schwingel, especialista em saúde da 16ª CRS.

Schwingel é um dos 13 profissionais que integra o comitê criado pela coordenadoria para lidar especificamente com a situação do coronavírus. A equipe trabalha baseada nos levantamentos da Secretaria Estadual de Saúde, adaptados à realidade regional.

“Teremos um monte de gente com problemas respiratórios, precisando de leito e não será suficiente. Este é o drama que os profissionais estão lidando, ver o problema vindo e, de certa forma, estamos de mãos amarradas. Por isso, faz todo sentido a diminuição de contato social”, conclui Schwingel.

“Impossível fazer uma projeção”

A preocupação dos gestores das casas de saúde é com a dificuldade de projetar a evolução da doença na região.“É impossível fazer uma projeção. Tudo pode mudar. A gente vai tentar se adequar à demanda que vai surgir”, diz o gestor do hospital Ouro Branco, André Lagemann, que também é Presidente da Federação das Santas Casas e Hospitais Beneficentes, Filantrópicos e Religiosos do RS.

O Ouro Branco criou uma sala para atendimento destes casos, com três leitos. Uma segunda área está sendo isolada, com outro seis leitos e a possibilidade de ampliação para oito.

Entre as preocupações está a proximidade com a época de frio, quando a demanda hospitalar de doenças respiratórias cresce naturalmente.

“Hoje já se tem dificuldade de leitos de UTI. Em um cenário extremo, provavelmente se tenha mais dificuldade de conseguir esses leitos”, afirma.

3,5 mil casos até fim da semana no RS

O Departamento de Economia e Estatística atualizou as projeções da evolução do vírus no estado. No cenário mais provável, o estado chegará a 3,5 mil casos no fim da próxima semana.

O estudo apresenta três cenários distintos: moderado, agressivo e extremo. De acordo com o departamento, que é vinculado à Secretaria de Planejamento e Gestão, o Brasil segue uma curva de evolução dos contágios semelhante a países como França e Alemanha.

O estudo foi atualizado nessa terça-feira, 23. Na primeira versão, os especialistas projetavam que o 50º caso no estado fosse ocorrer no dia 23. Na prática, a marca foi atingida três dias antes. Na data prevista para o caso de número 50, o estado estava perto dos 100 confirmados.

No pior dos três cenários, os casos chegariam a 4,3 mil. Na projeção moderada, seriam 245 casos. O estudo não apresenta projeções de número de mortes.

Lajeado: o maior do Vale se prepara

Para o coordenador médico da emergência do Hospital Bruno Born, trabalhar no limite da capacidade não é uma situação nova. “A gente atende mais ou menos no limite. Estar lotado não é uma coisa infrequente no sistema de saúde do país”, diz André Pinheiro Weber.

Quando se tem uma pandemia com uma transmissão respiratória alta, se misturar as duas populações, vamos ter infarto e coronavírus juntos. A mortalidade fica muito
mais alta.” ANDRÉ WEBER, médico do HBB

Neste contexto, a estratégia prevê evitar que pacientes que não tenham necessidade, evitem os hospitais e isolar uma área para os casos com complicações respiratórias. A área do antigo pronto atendimento está dedicada exclusivamente a estes casos.

São oito leitos, distanciados e ventilados, para evitar contágio.

As equipes são exclusivas do setor e os profissionais utilizam equipamentos diferenciados. São 2 médicos, três enfermeiros e cerca de cinco técnicos. Para entrar ali, é necessário utilizar luvas, máscara, jaleco, óculos, gorro cirúrgico e propé

Hospital, só se necessário

Weber destaca que há pacientes que não podem deixar de ir ao hospital, como os que dependem de diálise e os casos imprevisíveis, como infarto.

“Tem patologias que não escolhem horário. Quando se tem uma pandemia com uma transmissão respiratória alta, se misturar as duas populações, vamos ter infarto e coronavírus juntos. Aí a mortalidade fica muito mais alta”, diz.

O médico relata que há situações de trabalhadores que buscam o hospital pois os patrões exigem atestado para a quarentena. Ele afirma que a situação é “extremamente prejudicial” e que não se deve expor pessoas saudáveis a um ambiente de potencial contaminação em função de questões burocráticas.

A orientação é que o paciente que tiver falta de ar ou febre alta persistente deve procurar uma Unidade Básica de Saúde.

Os profissionais trabalham com a perspectiva de que a situação de exceção dure, no mínimo, até o fim de maio. Pela duração dos sintomas, quando os casos pararem de aparecer, os atendimentos por complicações respiratórias devem seguir por cerca de um mês.

Univates tem 40 leitos à disposição

No maior município da região, a governo municipal articula ações junto ao HBB e à Univates. Além do hospital, a estrutura dispões de atendimento 24h, postos de saúde e a Unidade de Pronto Atendimento.

“A estrutura do HBB está muito bem montada. Na eventualidade de lotarem esses espaços, temos acertada a estrutura da Univates para casos menos graves e deixaremos o HBB para os casos mais graves”, diz o prefeito Marcelo Caumo.

O prefeito afirma que há 40 leitos disponíveis no Centro Clínico, que poderiam ser acionados rapidamente. Em uma terceira fase, se os casos seguirem crescendo, serão utilizadas salas do setor de fisioterapia. De acordo com Caumo, não há necessidade de se montar hospitais de campanha.

Taquari e Encantado: corrida contra o tempo

Dois dos seis principais hospitais da região ainda não têm disponíveis os setores exclusivos para atendimento a paciente com complicações respiratórias.

Em Taquari, o Hospital São José estima que o espaço esteja pronto em 10 dias. O espaço precisa ainda ser pintado e passar por reforma na parte elétrica. Além disso, o hospital aguarda equipamentos, como respiradores, que foram comprados e ainda não chegaram. A previsão da associação mantenedora é de que o local tenha 10 leitos disponíveis.

Em Encantado, a direção do hospital Santa Terezinha informou que o setor de isolamento ainda não está disponível, mas não informou quando estará pronto ou de quantos leitos a casa de saúde vai dispor.

Acompanhe
nossas
redes sociais