“Sempre gostei de desafios”

Entrevista da semana

“Sempre gostei de desafios”

Completando 41 anos neste sábado, Renata Schaefer passa a limpo a carreira na arbitragem, desde o início difícil, até os jogos importantes.

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“Sempre gostei de desafios”
Vale do Taquari
Gustavo Adolfo 1 - Lateral vertical - Final vertical

Quando você decidiu em participar do mundo do esporte?

Renata – Nunca tinha pensado nisso, joguei campeonatos feminino e depois fui mesária. Em um desses jogos que estava trabalhando, o Leandro Vuaden era o árbitro e fiquei muito indignada com a decisão. Fui xingar ele no fim da partida e ele me desafiou para ir dentro do campo apitar uma partida, para ver como é. De birra fui mesmo. No ano seguinte fui convidada para participar de um curso de reciclagem para árbitros promovida pela Aslivata na Univates. O convite veio do Moacir Montovani. Fomos eu e meu irmão. Na parte teórica não fui muito dedicada, quando entrei no campo foi amor a primeira vista.

Como a família recebeu a noticia?

Renata – Recebi muito apoio, meu irmão ficou muito orgulhoso. Meu pai sempre jogou, era da diretoria do Rui Barbosa e para ele era o máximo ter uma filha no mundo do futebol. Fui pioneira na Região, mas sempre fui bem apoiada.

Como foi a trajetória na arbitragem?

Renata – Eu subi muito rápido, foi uma trajetória de muita evolução, trabalhei em 2006 bastante na Região. Em 2007 foi quando surgiu o convite para fazer o teste na Federação. O curso foi de agosto a dezembro. Em 2008 participei do Efipan e fiquei uma semana trabalhando nesses jogos. Fui avaliada e tive que corrigir algumas posturas. Tive o prazer de ser convidada para trabalhar na final do Efipan que foi um Gre-Nal. Dali em diante não parei mais. Trabalhei nas categorias juniores, juvenil, Segundona Gaúcho. Em dezembro de 2008 recebi o escudo da CBF feminino. Foi um ano de trabalho e em janeiro de 2009 já trabalhei no Gauchão.

Como é ser mulher e trabalhar em um esporte machista?

Renata – Sempre gostei de desafios. Antes de ser bandeirinha, queria ser policial. Na arbitragem nunca tinha pensado em trabalhar. Foi complicado, pois era a pioneira. Até o pessoal reconhecer que tinha uma mulher no campo foi difícil. Pessoal falava que mulher tinha que estar no tanque lavando roupa ou no fogão cozinhando. Foi o que mais ouvi nas partidas. Tive que conquistar meu espaço e mostrar que podia estar ali. Tinha que ter 100% de acerto para não ser julgada e mais um pouco por ser mulher. Foi muito difícil esse começo. E ainda peguei no meio do caminho a questão da Ana Paula de Oliveira que posou nua para a playboy. Tive que fazer as pessoas pensarem diferente, mostrar que tinha capacidade de estar ali nos gramados. Foi bem complicada aquela fase. Ela se expôs e tive que provar ainda mais para não ser vista apenas como um corpo bonito dentro do campo e sim ser vista como profissional.

Você sofreu preconceito ou assédio?

Renata – Tem de tudo. No inicio principalmente. Até as pessoas reconhecerem quem eu era. Aconteceu muito até eles me ver na TV e depois me enxergar no amador. Foi quando consegui mais respeito das pessoas, muitos me procuravam e elogiavam. Aquilo me abriu as portas para ter um respeito maior. Foi a partir dali que fui sendo conhecida e respeitada dentro do campo. Assédio a gente recebe de jogadores, dirigentes, técnicos e torcedores, mas a gente sabe lidar com isso. Se eu aceito estar em um ambiente masculino, tenho que me blindar a isso e ter que levar de boa.

Qual o conselho que você da para as mulheres que querem seguir a carreira de árbitra ou bandeirinha?

Renata – Muita dedicação e muito estudo. Jamais baixar a cabeça. A gente ouve muita coisa. É bem difícil mesmo. Você tem que ter um psicológico muito forte. Tem que se blindar mesmo. Mas precisamos de mais mulheres nos gramados. As portas estão abertas, tem espaço para mais mulheres. Não podemos baixar a cabeça e nos deixar humilhar. Tem que ir atrás do seu sonho sempre.

Podemos ter no futuro uma nova Renata Schaeffer no Vale do Taquari?

Renata – Olha tá complicado isso (risos). A gente vê que temos no Vale do Rio Pardo a Taís Ruver como exemplo, mas no Vale do Taquari não tem. As portas estão abertas, gostaria de ajudar as pessoas a continuar o processo. Pessoal reclama da arbitragem e ninguém quer botar a cara, são sempre os mesmos. Quem querer seguir a carreira, pode me procurar que dou dicas.

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